Natureza em estado puro

A visão de Simões Lopes Neto

19/05/2010 20:25

 

O desenvolvimento da lenda da teiniaguá (revitalização duma herança comum) e a narrativa da aventura de Blau (a criação do conto).

Experiência pessoal e testemunho do personagem como eixo do relato (invenção).
Folclore, tradição e a lenda como elementos estruturais (patrimônio).
Ordenação intencionalmente encadeada e confusa entre o folclórico, o psicológico e o mítico.

Dissimulação da trajetória de Blau no mundo mítico, transformando-se de gaúcho pobre em herói, vencendo a batalha contra seus demônios infantis.
Duplicidade da viagem: o ingresso na furna encantada tem a função de subtrair Blau ao mundo humano para coloca-lo, solitário, num centro dum combate, obtendo o conhecimento duma zona interdita – o reino da teiniaguá encantada – e simultaneamente, a revelação de sua própria identidade, a posse de si mesmo. O folclórico, o psicológico e o mítico (imagem-arquétipo da teiniaguá).
Gaúcho

Antes da entrada das sumatras portuguesas pela barra de São Pedro, primeiras famílias de açorianos, já era o Rio Grande, a província de Tapes, dividida em 10 grandes fazendas jesuíticas, com riquíssimos rebanhos. Os homens que tangiam esse gado montavam a cavalo, vestiam chiripá e conheciam todos os segredos da equitação e dos campos. Foram os primeiros gaúchos do Século XVIII. Mestiços de espanhóis (ginetes do Ribatejo e do Alentejo, hábeis na equitação aprendida com os mouros) e índias.
Tinha espírito ousado do conquistador e a agilidade e perspicácia do nativo.
Rastreador, desgarrador, changador, quatrero, vagabundo dos campos, ladrão de gados, matreiro, precursor do gaúcho, bárbaro,
O gaúcho espanhol nasceu antes do gaúcho português ou brasileiro.
O português não montava e era visto como chambão e maturrango (aquele que monta mal a cavalo).
O gaúcho surgiu do aprendizado da cavalaria, o centauro dos pampas dominava o gado e os índios.

Blau Nunes
Neto de avó charrua
Narrador imaginário, (observado/inventado por Simões) que se exprime com pitoresca simplicidade do campeiro, sem preciosismos verbais. Tem a renuncia e a piedade como salvação. É um representante da sociedade da época (1913), formado ali mesmo nas guerras próximas as reduções jesuíticas. O gaúcho, resultante do circulo vicioso configurado por latifúndio, pastoreio patriarcal, abundância de gado alçado e fronteira aberta.
É pobre, guasca de bom porte, possui um cavalo gordo, o facão afiado e as estradas reais. Estava conchavado de posteiro, na entrada do rincão, nesse dia campeava um boi barroso, crioulo daquela querência.
Andava no tranquito olhando para o fundo das sangas, para o alto das coxilhas, ao comprido das canhadas

Reduções Jesuíticas
São Tomé (1632) Próximo ao Rio Ibicuí

Ritos de passagem do personagem
separação/iniciação/retorno

Idade do couro
(universo da época colonial, missões espanholas, S. Tomé)

Cerro do Jarau
(Botucaraí, Rio Uruguai e outros locais)
Coxilha Geral de Santana, sobre a fronteira com o Uruguai, ao norte da cidade de Quaraí. O cerro possui vertentes de água com terra colorida e formação geológica diferenciada.

Sacristão
Está sob o encantamento há duzentos anos. Seu crime é o duplo pecado. A luxúria que o arrastou ao regaço da princesa moura; logo a abjuração à fé católica. Seu pecado ocorreu nas reduções jesuíticas à margem do rio Uruguai, duzentos anos antes da história vivida por Blau.
Furna encantada
(Salamanca, gruta, caverna, tesouros, mitos,...)

Caverna platônica e Caverna pampiana
(LINK DE SÍTIO SOBRE O MITO DA CAVERNA)

Caverna é a própria terra que guarda seus tesouros. Covas dos lagartos, de tesouros naturais ou escondidos pelo homem. Lugar onde dois mundos se encontram. Portas misteriosas, o mais antigo santuário da humanidade, representa a vagina e o útero materno, local onde nasciam deuses e heróis. Quase sempre está associado com a força feminina e a fertilidade.
Na cultura cristã, os símbolos da sexualidade eram amplamente reprimidos. Um texto chamado “A caverna do tesouro” ou “O livro cristão de Adão do ocidente”, estranho à igreja e da época protocristã, começa sua narração na caverna, na qual, após uma dura vida de lutas (depois da expulsão do paraíso), o progenitor Adão foi sepultado (séc. V d.C.). O velho Noé pediu a seu filho Sem que fosse buscar nas cavernas os ossos do primeiro homem e depois o sepultasse novamente “no centro da terra”.

Na simbologia dos sonhos, segundo a psicologia profunda, o caminho cheio de perigos através das cavernas escuras é interpretado principalmente como referencia à procura de um sentido na vida nas profundezas de camadas herdadas do inconsciente materno, e outras vezes como símbolo de uma regressão à obscuridade desejada e segura da vida pré-natal. O fascínio que as cavernas exercem sobre os amantes do seu estudo e exploração (espeleologia) não pode ser explicado apenas como vontade de ampliar a pesquisa científica, mas também como um anseio apenas simbolicamente explicável por uma descida cognitiva às profundezas ocultas da própria personalidade. A interpretação do topos “caverna” sob a ótica da psicologia profunda: “o retorne a caverna é uma possibilidade remota, a segurança em si. Entrar na caverna significa, em termos psicológicos, retorna ao útero materno, negar o nascimento, submergir nas sombras e no mundo noturno do indistinguível. É a renúncia da vida terrena a favor da vida superior de quem não nasceu...(na caverna) não existe tempo, não há nem ontem nem amanhã, pis dia e noite não se distinguem dentro dela. Segundo Mircea Eliade, esse isolamento representa uma ”existência de larva “.

Local de iniciação dos magos e do cerimonial de Blau Nunes com os segredos da magia.
Esconderijo de tesouros de cristãos e mouros e protegida por serpentes e dragões, durante as guerras.

Segundo Câmara Cascudo: O professor das fórmulas mágicas nas covas de Salamanca era um cristão, Clemente Potosi, pelo ano de 1322.

Duplicidade da viagem: o ingresso na furna encantada tem a função de subtrair Blau ao mundo humano para coloca-lo, solitário, num centro dum combate, obtendo o conhecimento duma zona interdita – o reino da teiniaguá encantada

Boi-barroso
Animal encantado
Metáfora da busca de si mesmo.

Segundo Câmara Cascudo: dança figurada no Rio Grande do Sul (registrada em 1942 em uma fazenda de S. F. de Paula), tem também o nome de “sarna”, pois na coreografia parece que os pares se coçam. O andamento tem melodias em terças, mesma tonalidade, subida ao sétimo grau. Repetem-se inúmeras vezes antes de concluir.

Mouros e cristãos
(a lua e estrela contra a cruz na tradição espanhola, moura e cristã)
Chegada de alguns poucos ginetes do Ribatejo e do Alentejo, hábeis na equitação aprendida com os mouros.

Artes da Magia árabe
(lua e estrela, cidade dos mestres mágicos, varas de condão)

Fada velha
(condão mágico, princesa moura encantada)
No Brasil foram trazidas pelos portugueses.
Chegada dos navios espanhóis nas praias pampianas
(cultura, carga e tripulação)

Anhangá-pitã
(diabo indígena)
Gênio de todas as salamancas

Lagoa fervente
São Tomé
(ilha de palmital no meio)

Teiniaguá ou Teiú-iaguá
(mulher transformada em lagartixa com cabeça de carbúnculo)
Lagarto encantado com pedra cintilante na cabeça.
Representa toda uma família de seres aparentados. Aparece nas tradições de várias partes do mundo e é resultado de confluência de vários elementos míticos.
As traduções podem ser: comumente usada é lagarto-cão
Fielmente em tupi temos teiu (lagarto) mais yaguá (cão ou felino).
Segundo Mário Corso a hipótese mais provável é teiu (lagarto) que , acrescido de “i”, é diminutivo, ficando “lagartinho”; mais água, uma corruptela de anga (espírito ou alma), que poderia ser traduzido por “lagartinho encantado” .

De origem secular, e há uma alusão em Flaubert (A Tentação de Santo Antão, 1902). “Hás de ver, estando a dormir sobre primaveras, o lagarto que só desperta todos os séculos, quando lhe cai de amadurecido, o carbúnculo da testa”.

Carbúnculo quer dizer pedra vermelha, rubi. Na traição mágica, temos pedras talismãs, que conferem poderes ao seu portador. Esta é muito especial por ser como uma brasa, como se a luz viesse de dentro.

A pedra da serpente, tema mítico e arcaico. Guardiões da árvore da vida, de uma zona consagrada por excelência, de uma substância sagrada, de valores absolutos (imortalidade, eterna juventude, ciência do bem e do mal, etc). Poucos, efetivamente, conseguem retirar a pedra da cabeça da serpente. Esta lenda é considerada “degradada”, uma das inúmeras variantes da fórmula mítica primordial. Foram acrescentados elementos mouriscos, cristãos e indígenas.

A pedra vermelha do carbúnculo evoca a origem dos metais, da mãe do ouro e da prata, produz fumaça, terremotos e luminosidade pelo sobrenatural.
Crença popular latino-americana.
Muitos já viram a mãe do ouro transladar-se do Cerro do Jarau para o Cerro de La Cruz, na margem ocidental do Uruguai e vice versa.

“A rosa dos tesouros escondidos dentro da casca do mundo...”
“bicho imundo, falsa, sedutora e feiticeira...”

Simbologia Cristã
(universo sagrado, cruz, sino, canastra, garrote,...)
cruz de malta no peito do paisano na cabeça do cavalo

Pecado e castigo
(punição moral e física do garrote, desespero, angústia,...)

Provações da furna encantada
7 provas
01 as espadas ocultas na sombra
02 a arremetida de jaguares e pumas furiosos
03 a dança dos esqueletos
04 o jogo das línguas de fogo e das águas ferventes
05 a ameaça da boicininga amaldiçoada
06 o convite das donzelas cativas
07 o cerco dos anões

7 recompensas
sorte, amor, sabedoria, força, mando, riqueza e arte

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