Natureza em estado puro

Aspectos Geográficos do Jarau

27/11/2010 15:32

 

 

TÍTULO: Uma Visão Geográfica Sobre o Cerro do Jarau, Quaraí-RS

 

Denise Peralta Lemes - Mestre em Geografia/UFSM.

 

Ana Leticia de Oliveira - Bacharel, Mestranda em Geografia/UFSM

 

 

O Cerro do Jarau, situado cerca de 25 Kms a noroeste do perímetro urbano do município de Quaraí-RS, é uma paisagem diferenciada na região. Circundado por planícies aluviais e coxinhas, essa feição geomorfológica é incontestável com sua beleza, porém até os dias de hoje, seu surgimento e formação é muito questionado.

Inúmeros autores abordam sobre essa temática, podendo serem destacados os estudos de Giudice (1961), onde relata em seus manuscritos que no “Jarau atual não há vulcões como dizem alguns”. No entanto, apresenta que em 1911 houve um movimento tectônico com o deslocamento de uma enorme pedra de aproximadamente 800 toneladas, sendo que o tremor de terra pode ser sentido até mesmo na cidade.

Grehs (1969) partindo dos estudos fotogeológicos do Cerro Jarau, identificou anomalias nos padrões de drenagem e morfologia estabelecidos em rochas basálticas, distribuindo-se segundo uma forma elíptica ao redor do Cerro, sugerindo que os derrames se amoldaram sob uma paleogeomorfologia. Após estudos de campo concluíram que, a feição geomorfológica do Cerro do Jarau é parte de um domo estrutural resultante de esforços tectônicos posteriores ao Arenito Botucatu e, anteriores aos derrames basálticos da Formação Serra Geral.

Já Schuck et al (1987), efetuaram estudos em imagens Landsat, radar e aerofotos, onde individualizaram uma unidade fisiográfica e, dentro desta unidade, definiram três estruturas distintas: Estrutura Falhada Anelar; Bacia Estrutural do Quaraí-Mirim e o Domo da Boa Vista do Garupa.

Lisboa (1987) destaca que a região do Cerro do Jarau, caracteriza-se por apresentar diferenciação morfológica em uma área restrita, indicando diversidade litológica e estrutural, as quais responderam seletivamente aos processos erosivos.

Simões (1993) relata que o Jarau é uma serrania com mais de 11 cerros, o mais alto atinge 308 m e integra uma das áreas vulcânicas do Brasil.

Philip et al, (2009, no prelo) questionam os estudos dessa estrutura circular perguntando-nos o que realmente aconteceu nesse local, instigando a responder se o que ocorreu é um astroblema, intrusão ígnea e/ou tectônica?

Nos estudos geomorfológicos desenvolvidos por Lemes (2009), o Cerro do Jarau, está enquadrado na região Geomorfológica do Planalto da Bacia do Paraná, na Unidade Morfológica da Cuesta de Santana, como observamos no quadro abaixo.

Regiões Geomorfológicas

(1º Taxon)

Unidade Morfológica

(2º Taxon)

Tipos de Modelados

(3º Taxon)

Planalto

da

Bacia do Paraná

Vale do Médio Rio Uruguai

-Planícies

Cuesta de Santana

-Morros Testemunhos

-Coxilhas

 

Compartimentação Geomorfológica do município de Quaraí-RS

Fonte: Sartori e Pereira Filho, (2001).

Org: Denise Peralta Lemes

 

Através dos estudos desenvolvidos no município de Quaraí, foi possível a individualização de três tipos de modelado e quatro formas de relevo, representadas no quadro 02.

 

Tipos de Modelado

Formas de Relevo

Declividade (%)

Hipsometria (metros)

Morros Testemunhos

Morros (Cerros)

15 - > 25

> 240

Coxilhas

Coxilhas altas

8 – 15

160 – 240

Coxilhas baixas

5 – 8

80 – 160

Planícies

Planícies aluviais

0 – 5

< 80

Tipos de Modelados, Formas de Relevo, Declividade, Hipsometria.

Org: Denise Peralta Lemes

 

A unidade dos morros apresenta-se com declividade entre 15 a >25%, e altitudes superiores a 240 metros. Esta unidade ocupa uma área de 47,3 Km², ou 1,5% da área do município.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem de satélite mostrando o Cerro do Jarau município de Quaraí-RS.

Fonte: Google Earth, 2008.

 

Uma das principais feições geomorfológicas marcantes deste setor (morros) é o Cerro do Jarau, uma estrutura dômica localizada a noroeste do município.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

             Cerro do Jarau, 2007.

Foto: Denise Peralta Lemes

 

 

Segundo MRS (2002), nesta estrutura a porção central é composta por arenitos fluviais que graduam externamente para arenitos eólicos limitados, na sua parte norte, por uma crista de quartzo. Esta possuindo falha de centenas de metros de largura por aproximadamente 4 Km de extensão. Essa crista mostra uma forma de arco com alongamento principal para N 30ºW e representa na porção norte, o contato com as rochas vulcânicas básicas que circundam a estrutura. Assim, a feição geomorfológica representada por esta crista foi interpretada como Estrutura Falhada Anelar do Jarau por Schuck et al. (1987), que identificou a formação da mesma por um processo de cisalhamento frágil.

O afloramento dos arenitos está associado à existência de importantes falhas de natureza frágil nesta área. O marcante relevo de cristas alongadas segue a direção NO-SE, e vem sendo sustentado por uma zona de catáclase, onde os arenitos encontram-se fraturados e quebrados com um preenchimento marcado por uma intensa venulação de quartzo.

As condições deposicionais dos arenitos da Formação Botucatu, envolveram em alguns locais, uma relação de contemporaneidade com a deposição das lavas da Formação Serra Geral. Veiga (1973) descreve que a deposição da porção superior do pacote arenoso ocorreu de modo simultâneo com a extensão dos primeiros derrames basálticos. Mostrou ainda, que os arenitos intertrápicos ligavam-se lateralmente com as rochas da Formação Botucatu. A ocorrência de arenitos intertrápicos com as rochas vulcânicas da Formação Serra Geral indica um contato interligado entre estas duas formações.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem de satélite mostrando o Cerro do Jarau município de Quaraí-RS.

Fonte: Google Earth, 2008

 

Esta estrutura dômica constitui um grande obstáculo para os cursos do Arroio Garupa e Quaraí-Mirim, pois esses dois arroios são os principais modeladores dessa feição geomorfológica, e conforme Schuck et al. (1987) há dificuldade de degradá-la o que provoca uma forçada adaptação no seu curso, que passa a ter então, uma forma de arco envolvendo o denominado Domo da Boa Vista do Garupa.

A origem e formação do Cerro do Jarau ainda não foram completamente delimitadas, sendo que tudo que se sabe até então faz parte de uma série de hipóteses levantadas, mas que ainda precisam ser comprovadas ou desmistificadas. No entanto, é fato que este Cerro, é uma feição única repleta de características próprias, fazendo parte não somente da paisagem do município de Quaraí como também da cultura local, e como tal deve ser valorizado e preservado.

 

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