
Natureza em estado puro
Lenda Salamanca do Jarau
A SALAMANCA DO JARAU I Era um dia… um dia, um gaúcho pobre, Blau, de nome, guasca de bom porte, mas que só tinha de seu um cavalo gordo, o facão afiado e as estradas reais, estava conchavado de posteiro, ali na entrada do rincão; e nesse dia andava campeando um boi barroso. E no tranquito andava, olhando; olhando para o fundo das sangas, para o alto das coxilhas, ao comprido das canhadas; talvez deitado estivesse entre as carquejas – a carqueja é sinal de campo bom -, por isso o campeiro às vezes alcançava-se nos estribos e, de mão em pala sobre os olhos, firmava mais a vista em torno; mas o boi barroso, crioulo daquela querência, não aparecia; e Blau ia campeando, campeando… Campeando e cantando: Meu bonito boi barroso Montei no cavalo escuro No cruzar uma picada Nos tentos levava um laço Mas no mato carrasquento E mandei fazer um laço E mandei fazer um laço E mandei fazer um laço Este era um laço de sorte, No tranquito ia, cantando, e pensando na sua pobreza, no atraso das suas cousas. No atraso das suas cousas, desde o dia em que topou – cara a cara! – com o Caipora num campestre da serra grande, pra lá, muito longe, no Botucaraí… A lua ia recém-saindo…; e foi à boquinha da noite… Hora de agouro, pois então! Gaúcho valente que era dantes, ainda era valente, agora; mas, quando cruzava o facão com qualquer paisano, o ferro da sua mão ia mermando e o do contrário o lanhava… Domador destorcido e parador, que por só pabulagem gostava de paletear, ainda era domador, agora; mas, quando gineteava mais folheiro, às vezes, num redepente, era volteado… De mão feliz para plantar, que lhe não chocava semente nem muda de raiz se perdia, ainda era plantador, agora; mas, quando a semeadura ia apontando da terra, dava a praga em toda, tanta, que benzedura não vencia…; e o arvoredo do seu plantio crescia entecado e mal floria, e quando dava fruta, era mixe e era azeda… E assim, por esse teor, as cousas corriam-lhe mal; e pensando nelas o gaúcho pobre, Blau, de nome, ia, ao tranquito, campeando, sem topar co’o boi barroso. De repente, na volta duma reboteira, bem na beirada dum boqueirão sofrenou o tostado…; ali em frente, quieto e manso, estava um vulto, de face tristonha e mui branca. Aquele vulto de face branca… aquela face tristonha!… Já ouvira falar dele, sim, não uma nem duas, mas muitas vezes… e de homens que o procuravam, de todas as pintas, vindos de longe, num propósito, para endrôminas de encantamentos…, conversas que se falavam baixinho, como num medo; pro caso, os que podiam contar não contavam porque uns, desandavam apatetados e vagavam por aí, sem dizer cousa com cousa, e outros calavam-se muito bem calados, talvez por juramento dado… Aquele vulto era o santão da salamanca do cerro. Blau Nunes sofrenou o cavalo. Correu-lhe um arrepio no corpo, mas era tarde para recusar: um homem é para outro homem! E como era ele quem chegava, ele é que tinha de louvar; saudou: - Laus’Sus-Cris! - Para sempre, amém! – disse o outro, e logo ajuntou: - O boi barroso vai trepando cerro acima, vai trepando… Ele anda cumprindo o seu fadário… Blau Nunes pasmou do adivinho; mas repostou: - Vou no rastro! - Está enredado… - Sou tapejara, sei tudo, palmo a palmo, até à boca preta da furna do cerro… - Tu… tu, paisano, sabes a entrada da salamanca? - É lá?… Então, sei, sei! A salamanca do cerro do Jarau!… Desde a minha avó charrua, que ouvi falar! - O que contava a tua avó? - A mãe da minha mãe dizia assim:
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